quarta-feira, 6 de abril de 2011

Se os tubarões fossem homens

Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais.

Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias, cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim que não morressem antes do tempo.

Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.

Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões.

Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos.

Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos.

Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência.

Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista e denunciaria imediatamente aos tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.

Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre sí a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros.

As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que entre eles os peixinhos de outros tubarões existem gigantescas diferenças, eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro.

Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos

Da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.

Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, havia belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nos quais se poderia brincar magnificamente.

Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões.

A música seria tão bela, tão bela que os peixinhos sob seus acordes, a orquestra na frente entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos .

Também haveria uma religião ali.

Se os tubarões fossem homens, ela ensinaria essa religião e só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida.

Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros.

Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar e os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiro da construção de caixas e assim por diante.

Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.


Bertold Brecht


Jocker

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Webcomic genial

Sabe aquelas ideias que você gostaria que fosse sua.




Originalmente no site: spaceavalanche

Jocker

Dica Rapida VII

Um site com quadrinhos engraçados, mas diferente do comum, vale a pena dar uma olhada.
Obs: não rira muito, é um humor mais sutil.

O site: spaceavalanche

Uma prévia do que tem por lá:


Essa é digna do "Um Sábado Qualquer"







Na verdade, não foi isso que me chamou atenção no site, mas sim uma outra tira, que estará no proximo post.

Jocker

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

CIDADEZINHA QUALQUER

Casas entre bananeiras
Mulheres entre laranjeiras
Pomar, amor, cantar
Um homem vai devagar
Um cachorro vai devagar
Um burro vai devagar
Devagar...
As janelas olham
Êta, vida besta, meu Deus


Carlos Drummond de Andrade


JoCkER

Cota Zero


Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?

Carlos Drummond de Andrade


JOckER

sábado, 20 de novembro de 2010

Conto de Hans Haeckel


A velha era triste e disforme. O cahorro era magro.
Ela percorria aquele caminho há muitos anos.
Catava o lixo de um montouro. Os meninos resolveram matá-la.
Ela e o cachorro. Armaram-se com barras de ferro. Com facas também.
O cachorro ganiu comprido. A velha nem um pio.
Um dos meninos disse que queria comer os olhos da velha.
O outro perguntou por quê.
porque dizem que é parecido com ostra.
quem disse isso?
gente que já comeu, ué.
olho ou ostra?
eh, bobo, tanto faz.
Então arrancaram os dois olhos da velha.
Gostaram tanto que resolveram comer os do cahorro também.
supimpa, disse um deles.
legal disse o outro.
E foram dormir. Arrotando olhos.

Hilda Hilst



JOCkeR

domingo, 17 de outubro de 2010

Bonifrate, Douglas MTC

O melhor até então. O que não pecou em nada. Posso comparar a um livro de Cornwell, narrativa com bastante ritmo e pontos de referência, sem muitas complicações na escrita, mas também nada perto do minimalismo, um leitor mais fluente deslancha pelo texto com uma facilidade e prazer admiraveis.

Mas o melhor mesmo, também igual os livros do Cornwell, é a historia, bem definida, sem muitas interrupções, original com elementos classicos do estilo, algo digno de referência a novos escritores e leitores do gênero.

Acho que o defeito esta na falta de descrição que não permite que o leitor se situe em tempo e espaço, e com isso não compreenda o porque aconteceu, o fique apenas com o que aconteceu.


De
Bonifrate, de Douglas MCT, roteirista de quadrinhos, desenhos e cinema, é uma interessante releitura de um conhecido clássico infanto-juvenil italiano dentro da linguagem e sensibilidade do New Weird – um novo subgênero da fantasia, tipificado pelo romance Perdido Street Station do britânico China Miéville, que incorpora elementos de realismo social urbano, ficção científica e muitas vezes (como neste caso) tecnologia e estética do século XIX ou steampunk. Também se ouvem ecos das batalhas metafísicas da trilogia Fronteiras do Universo, de Philip Pullman. O conto é sensível sem ser piegas e tira inspiração de um livro para crianças sem ser pueril. Deixa a desejar em detalhes, como a reviravolta forçada do epílogo, que exige demais da suspensão de descrença do leitor. Também ficaram sobrando certas alusões a notícias de época e personagens de ficção, que pendem como pontas soltas que não ajudam a avançar a trama ou caracterizar o cenário.


De
Tibor Moricz

Demorei um pouco a me adaptar à prosa um tanto quanto sui generis do Douglas (estilo próprio ou ainda procurando um?), mas acabei mergulhando de cabeça numa bela narrativa. FC ou fábula, com direito a Gepetto e Pinochio (figuradamente), a idealizações pré-programadas, lutas e busca por respostas.

De

Jrcazeri

Bonifrate – Douglas MCT: cruzando sentimentos profundos com ação, Douglas reconstrói uma fábula universal usando um cenário steampunk com influências de Matrix. Parece loucura? Não é, todos os ingredientes combinam perfeitamente, tal a engrenagem de um relógio, e o resultado é fantástico.



JOCkEr